O trajecto estava soberbo, tinha de tudo, estradas rolantes, single tracks, vistas e paisagens fenomenais, principalmente na Serra de Alvaiázere, Vale do Rio Seco e Sicó. Foram 125 kms de aventura e boa disposição.
Após a partida à 8h30m, seguíamos todos em grupos grandes e, mais para o final, o pessoal ia formando grupos mais pequenos com iguais níveis de andamento. Eu, a partir do Rabaçal (km 70), segui com uma dupla de Aveiro (o Nelson e o Ernesto), que tinha um nível de andamento parecido com o meu.
Não havia fitas, reforços e abastecimentos, era cada um por si. À medida que íamos percorrendo o percurso, havia pessoal que parava para almoçar ou para se sentar à esplanada de um café, a repor energias. Também havia grupos que faziam paragens em locais ermos, para um pequeno descanso e para apreciar a vista.
Destaco, pelo nível de dificuldade a subida à Serra de Alvaiázare e o percurso a seguir ao Rabaçal. A zona do Sicó era muito dura, com subidas valentes, em trilhos, por vezes, muito técnicos. Só um espírito de sacrifício e muita técnica permitiram vencê-las todas.
Pelo nível de beleza do percurso destaco… tudo! Gostei da Serra de Alvaiázere, que já conhecia, mas gostei mesmo a partir do Rabaçal. Aquele vale do Rio Seco, antes de chegar a Conínbriga, era espectacular e, de uma maneira geral toda a Serra do Sicó.
Por volta do km 90, encontrámos, numa localidade improvável, um trio de imigrantes de leste que almoçavam sardinhas e vodka! Muito simpaticamente deram-nos água para reabastecer e ofereceram-nos ainda um shot de vodka, que recusámos. Despedimo-nos e desejaram-nos boa sorte para o restante percurso. A localidade em questão tinha uma ou duas casas! Como é possível virem de tão longe e instalarem-se naquele ermo?
Na lagoa de Poios, por volta do km 100, tínhamos um abastecimento improvisado pela organização com água e laranjas, que deu um pretexto para mais um breve descanso. Breve, pois as nuvens começavam a ameaçar.
Quando passávamos nas eólicas do Sicó, começa a chover e bem, mas o nosso grupo continuava bem disposto e com garra para os kms que ainda faltavam (cerca de 20 kms). A partir daí choveu quase sempre, mas não esmorecemos, nem na última subida em alcatrão, mesmo antes de chegar ao campo desportivo, na “meta”.
Foram quase 10 horas de pura adrenalina, com um grande controlo de esforço, e uma cuidada ingestão de calorias e hidratação. Uma falha ao nível do doseamento do esforço e da ingestão de líquidos e sólidos, podem comprometer a aventura. Por isso, os preparativos (pelo menos no meu caso) são muito ponderados. Analiso antecipadamente, as possíveis paragens ao longo do percurso (cafés, restaurantes, supermercados) para possível reabastecimento e carrego a mochila com barritas, alimentação energética e uma sandes. Prefiro chegar ao final com comida a mais, do que falhar. Já no que toca a água, o que levo (cerca de 2,75 litros) não chega, pelo que tenho que reabastecer ao longo do caminho, sempre que tenho oportunidade.
Outros aspectos que destaco nestes desafios são as amizades que se formam e o reencontro de camaradas. Seguimos todos, grande parte do tempo, em cavaqueira animada, já a discutir os próximos desafios que se avizinham. O espírito de entreajuda e de cumplicidade é grande.
Uma aventura épica, sem dúvida. Ou não fôssemos nós à conquista de Roma!
Track GPS "À Conquista de Roma"
Sem comentários:
Enviar um comentário